quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

domingo, 21 de dezembro de 2014

Feito Mariposa (versos)

Fogo
Atrai e queima
Se cedo à teima
Morro


Anderson Câmara

Te quero meu motivo. (versos)

quero te ter
sorrindo minha vida
quero te ver
na entrada de todo dia

desfrutar teu abraço
precisando ou não
e te levar no compasso 
do meu violão

quero a luz do teu sorriso
nos meus versos de poema
e que seja o mais belo motivo
que pra ser poeta eu tenha


28/11/2014
Anderson Câmara

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Fragmentos: promoção de natal.

Fragmentos não é meu primeiro livro mas é minha primeira publicação. É uma coletânea de poemas intercalados com alguns contos.

Para quem viu o vídeo postado no facebook em que anuncio o lançamento do livro, aquilo que disse é bem válido, quanto à Amazon, mas vou mudar um pouco o que disse sobre o livro impresso.

Na Amazon o livro em versão digital estará disponível para Download gratuito. Basta ter a plataforma Kindle no celular ou tablet. Estará de graça a partir do dia 24 de dezembro, véspera de natal, até o dia 26 de dezembro, depois disso ele voltará ao preço de tabela, então aproveita o presente. rs

http://www.amazon.com.br/Fragmentos-Anderson-C%C3%A2mara-ebook/dp/B00QCKXNW4/ref=sr_1_2?ie=UTF8&qid=1419031748&sr=8-2&keywords=fragmentos


Quanto ao livro impresso, o Clube de Autores fez também uma promoçãozinha lá. O livro estava a 31 reais e alguns centavos e eles botaram um preço mais baixo. Não foi determinação minha mas achei bom, eles botaram o preço muito alto pro meu livro e não gostei disso.
De qualquer forma, o link tá aqui em baixo pra você ver.

http://www.clubedeautores.com.br/book/177339--Fragmentos#.VJS3sq74w


Maaas...

Fiz um pedido pela Letras e Versos e assim que a folga de fim de ano deles acabar estarei com alguns exemplares do Fragmentos em mãos, e é óbvio que não vou estipular um custo tão alto quanto o do Clube de Autores, já que eles são a loja e eles botam o preço deles. Quem adquirir o livro diretamente comigo vai pagar menos, principalmente para aqueles a quem posso também dar um aperto de mão enquanto entrego o exemplar.




É isso aí, feliz natal.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Leituras de 2014

Então, com dias abreviados, chegamos cada vez mais perto do fim do ano, e consequentemente mais perto do dia em que a humanidade vai entrar em colapso e o mundo verá o Apocalipse acontecer; mas isso não vem ao caso.

Escatologia à parte, esse post é uma super resenha, ou várias resenhas pequeninas, sobre o que foi lido pelo autor do blog nesse ano como se alguém se importasse. rs



ignora o Hulk

Bem, comparado a outros anos, li bem pouco esse ano, mas ao mesmo tempo li muito. Pouco em volume, apenas sete livros. Muito pelo fato de que me ative aos mestres e gênios.


1. O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas

 Alexandre Dumas eu classifico aqui como Gênio. O modo como ele nos transporta para uma Paris sem torre Eiffel é fascinante. Ele descreve com perfeição a sociedade da época, com seus valores duvidosos e os contrastes absurdos (coisa até parecida com o que se vê hoje). Duelos, casamentos arranjados pelos pais, extremas bondade e maldade, o poder do dinheiro, a descarada dissimulação exigida pelas altas posições sociais; entre tudo isso destaca-se um "Cale a boca, cavalheiro." Não fosse isso tudo, o enredo criado em torno do personagem de Edmond Dantés, o Conde de Monte Cristo, assim como a própria gradual e radical transformação do personagem, é pintado com uma maestria que você chega a duvidar se um ser humano seria capaz de encaixar tanta coisa em uma trama tão longa. Você fica fascinado com o quão meticulosas são as engrenagens para a vingança de Monte Cristo e o quão instáveis são as colunas que sustentam um indivíduo.
Comecei a ler O Conde de Monte Cristo em Novembro de 2013 e terminei em Outubro de 2014. Essa edição da Zahar tem 1662 páginas e reúne os dois volumes originais. Foi um desafio que comecei com receio e terminei com prazer.

2. O Silmarillion - J.R.R.Tolkien

Quem já leu Tolkien, sabe que não é fácil. Ele é extremamente e perfeitamente detalhista, mas sua obra se assemelha a um quadro impressionista: de perto, você vê pinceladas rápidas e isoladas, de longe, você vê uma obra magnífica. E essa é a grandiosidade de Tolkien, aqueles que o compreendem, sabem que Tolkien é também tanto um mestre quanto um gênio. A obra completa de Tolkien, desde O Hobbit, O Senhor dos Anéis, até chegar aos Contos Inacabados e os poemas de Tom Bombadil, pode ser descrita, retomando a metáfora, como um mosaico de quadros que se encaixa perfeitamente, sem deixar lacunas.
O Silmarillion é o livro mais completo sobre a mitologia tolkieniana, narrando desde a formação do mundo até os conhecidos eventos de O Senhor dos Anéis. Tolkien une uma geração à outra através de três eras, revelando as origens das raças, dos lugares principais, dos costumes, e falando de personagens conhecidos e surpreendentemente antigos Galadriel que o diga. Todo o enredo basicamente gira ao redor das Silmarils, que são as três pedras élficas criadas por Feanor; são símbolo de cobiça para criaturas das trevas e corrupção para seres de bem, por elas são travadas batalhas, aliados cometem assassinatos e a obtenção de uma Silmaril é até posta como condição para desposar a mais bela e mais nobre mulher que já andou sobre a Terra Média
Cometi um erro ao começar a ler O Silmarillion: peguei esse livro para descansar de O Conde de Monte Cristo, e acabou que os papéis se inverteram. Terminei o Silmarillion, apesar disso, muito mais rápido que Monte Cristo.

3. Verso Livre - Vários autores.

Descansava os olhos e a mente com poesia. Enquanto lia os dois de cima (ao mesmo tempo) eu intercalava os longos e complexos capítulos com sonetos e quartas de Carlos Drumond de Andrade, Vinícius de Morais, José Paulo Paes, Francisco Alvim e Eucanaã Ferraz. (confesso que não conhecia os três últimos). Relutei para incluir os livros de poemas nessa lista, poesia não é leitura que se marque, que se passe por cima com a sensação de dever cumprido e nunca mais se toque no livro. Poesia deve ser sentida, reaproveitada, compartilhada, absorvida e reproduzida.

4. Falenas - Machado de Assis

Há quem diga que Machado de Assis foi um poeta ruim. Não sei que critério estúpido foi utilizado por esses críticos, mas também não sou crítico. Talvez por isso o sentido de "crítica" tenha se transformado em sinônimo de "avaliação ruim" ou "apontamento de aspectos negativos", pois parece-me que o requisito para ser digno de ser honrado com o título de Crítico é ser incapaz de enxergar a realidade ou de admitir que apontar os verdadeiros aspectos de uma obra, seja positivos ou negativos, é mais importante que exaltar o próprio nome como avaliador polêmico que dá o que falar.
Machado de Assis, depois de Crisálidas, presenteia a humanidade com Falenas, seu segundo volume de poesia. Poeta romântico, clássico entre os clássicos e crítico (de verdade). Visionário para os padrões de seu tempo, e, é claro, passeando de mãos dadas com a poesia mesmo quando escrevia prosa.
É um bom exemplo para lembrar essas novas gerações de que no Brasil também tem escritor.

5. As Aventuras de Sherlock Holmes - Sir Arthur Conan Doyle

Não queria que minha imagem de Sherlock Holmes fosse construída por Robert Downey Jr. Há quem diga que Sherlock Holmes é uma versão pobre do Homem de Ferro; já eu, depois de ter lido essa coletânea de contos do homem com olhar mais perceptivo da literatura, digo que o Homem de Ferro foi mais moldado pelo Sherlock Holmes que o contrário. Quem conhece os quadrinhos sabe que o ator modificou a personalidade de Tony Stark. Talvez, contudo, Sherlock Holmes com suas excentricidades seja o personagem literário mais condizente com Robert Downey Jr. Genial, irônico, sarcástico, um tanto egoísta e ao mesmo tempo extremo praticante da empatia, Sherlock Holmes é um personagem tão grandioso que chega a se desvincular do nome de Conan Doyle. Holmes tem vida própria, e são poucos os personagens que conseguem ser grandiosos a pé de igualdade com seus autores. Os contos de Sherlock Holmes são narrados pelo Dr. Watson, cuja seriedade dá um tom solene à narrativa que contrasta com as situações estapafúrdias em que a dupla se encontra. Era engraçado ver uma pessoa desesperada chegar em Baker Street e se ver totalmente destrinchada pela observação de Holmes, e era mais engraçado ainda que isso te surpreendia mesmo sabendo que ele ia fazer isso de novo. Conan Doyle é um dos grandes mestres da Literatura e sua obra mais famosa é um belo reflexo disso.

6. A Causa Secreta e outros contos de horror. - Vários autores.

Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Bram Stocker (Drácula), Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro) Guy de Maupassant e Arthur Conan Doyle compõem este belo agrupamento de histórias de terror. Poe é sempre maestral com seus horrores psicológicos, e ler A Máscara da Morte Rubra em pleno surto de ebola foi particularmente assustador. Machado de Assis surpreende com o conto que dá titulo ao volume, talvez o mais assustador é que não haja nada de sobrenatural na narrativa escolhida para a coletânea, apenas o que pode ser encontrado de terrível no ser humano. Destaco apenas estes dois primeiros contos sem diminuir os outros. Com exceção de Guy de Maypassant, os demais autores são bem conhecidos pelo tom sombrio que são capazes de botar em suas palavras, mesmo Conan Doyle com Holmes.

7. Nas Montanhas da Loucura e outras histórias de terror. - H.P. Lovecraft

Ainda falando de terror e voltando a falar de gênios, fecho a lista com Lovecraft.
Se eu não dissesse mais nada essa frase valeria pelo post inteiro. Lovecraft criou toda uma mitologia, porém de uma forma muito mais terrível para a compreensão humana. Os humanos de Lovecraft topam uma realidade não paralela, mas oculta, que se torna espantosa por estar bem presente. Seus monstros são totalmente alheios a tudo o que se possa imaginar, até a nomenclatura "monstros" é pequena para os seres que ele descreve. Desde coisas fascinantes, como Cthulhu, até bizarras e perturbadoras, como Brown Jenkin. E o modo um pouco vago como ele descreve esse sobrenatural permite que a própria imaginação do leitor preencha o que falta, o que torna ainda mais terrível.
Eu não acreditava que era possível tomar um susto lendo, até ler Lovecraft.

domingo, 30 de novembro de 2014

No Sarau Donana

O Centro Cultural Donana existe há mais de seis anos, por iniciativa de Dida Nascimento. Reúne atrações de música, artes plásticas e literatura; dentro deste último, o que mais se destaca é o momento chamado Coletivo Pó de Poesia.

O Centro Cultural Donana é um recanto de arte no meio da estigmatizada Baixada Fluminense, a porção de Rio de Janeiro que não aparece nos cartões postais. Apesar de não ter alguma Ipanema, a Baixada ainda resiste com seu vasto e forte clã de poetas.

Todo último sábado do mês acontece o Sarau Donana, onde os poetas declamam sua arte, convidados especiais são apresentados e a noite é fechada com performances musicais; que vão da música entorpecente de Bob Marley, passando pelo Jazz contemporâneo até o pesado Rock 'n' Roll inspirado nos clássicos. Além disso, o evento abre espaço para exposições artísticas, apresentação de curta-metragens e um pouco de teatro misturado com poesia.

Neste dia 29 de Novembro, aconteceu o último Sarau Donana de 2014, onde o Coletivo Pó de Poesia fez uma homenagem a um de seus mais ilustres membros - Medina, para os amigos - que apresentava seu livro, O Morador da Lua.



Tive minha oportunidade ao microfone de homenagear o poeta, onde li um belo e curto poema intitulado Sementes. E mais tarde, contei a história do Almirante Negro e li uns versos do meu caderninho preto.






Você encontra fotos, informações e notícias do Sarau Donana no Facebook do Centro Cultural, o link aqui em cima.


sábado, 29 de novembro de 2014

Fragmentos na Amazon (publicação)





Então, esquece o Clube de Autores pra e-book. Muito preço para pouca qualidade.

Não to fazendo comercial, mas estou vendendo o Fragmentos pela Amazon, que é feito com muito mais esmero, os royalties são maiores e o preço é menor.

Quem quiser adquirir o livro, o primeiro caminho é através do link acima.



A arte é um mosaico. O artista deixa um pouco de si em cada obra, em cada bela manifestação do que preenche seus pensamentos e coração. E o mais majestoso é que o artista se empenha, lapida, colore, define, seu trabalho, que reflete a si mesmo, e ainda assim a arte reflete a alma do seu apreciador. Esses fragmentos de alma que o artista deixa na obra são rearranjados cada vez que alguém ouve uma música; esses fragmentos se encaixam com os fragmentos da alma de quem lê um poema; e assim o mosaico monta um significado que se adapta a cada apreciador. Bem vindo aos meus fragmentos, aqui manifestados tanto em poesia quanto em prosa, e preencha-os com os teus; façamos arte.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Fragmentos (pré-capa, se é que isso existe)


Abaixo você vê o protótipo da primeira capa de Fragmentos, obra que logo será lançada no Clube de Autores, como e-book, e possivelmente na Amazon.



O livro é uma combinação entre poesia e contos, intercalados e agrupados de certa forma.

A arte é um mosaico. O artista deixa um pouco de si em cada obra, em cada bela manifestação do que preenche seus pensamentos e coração. E o mais majestoso é que o artista se empenha, lapida, colore, define, seu trabalho, que reflete a si mesmo, e ainda assim a arte reflete a alma do seu apreciador. Esses fragmentos de alma que o artista deixa na obra são rearranjados cada vez que alguém ouve uma música, esses fragmentos se encaixam com os fragmentos da alma de quem lê um poema, e assim o mosaico monta um significado que se adapta a cada apreciador. Bem vindo aos meus fragmentos, aqui manifestados tanto em poesia quanto em prosa, e preencha-os com os teus; façamos arte. 

O livro consta de mais ou menos o que se encontra aqui no blog, mas é claro que há alguns poemas e contos exclusivos, como é o caso de Contos de Lourenço e Estrelas Perdidas. 

Aguardem (ansiosamente hehe) o link onde você poderá encontrar o e-book. E pode comemorar aí em casa, de pantufa e pijama com um suco de xarope, já que o lançamento com comes, bebes e gravatas vai demorar um tantinho pra rolar.
:)

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

A Árvore e a Mulher (verso e imagem)








Desta tela pelo Criador pintada
a que chamamos natureza
as duas formas mais destacadas
em valores e beleza
são a árvore e a mulher

Ambas de indispensável presteza
aquela, nos mantém a vida
esta, nos gera a vida.

Ambas de vistosa formosura
aquela de força enraizada
esta de força conquistada

Ambas de peculiar gentileza
quando aquela, tão vital, é cortada
e esta, não menos, magoada

Ainda assim, as folhas nos sorriem
e em seus braços nos sustentamos.

25/10/2014
Anderson Câmara










Vê se essa árvore em questão não tem mais pose que uma top model... rs

Inclusão digital mais um cabra metido a fotógrafo com um celular.







O sol nascente filtrado pela névoa.

Arte (versos)


Dentre as nuvens cinzentas urbanas
Vendo o pouco ganho pelo que trabalhaste
Ou a crueldade nas notícias mundandas
Refugia-te na pura e bela arte

Enxergue o céu azul entre os edifícios
atente ao raro canto dos passarinhos
Alegra-te na vida calma e sem vícios
Preserve o valor dos afetos e carinhos

A arte é a vida, a obra a expressa
Se tua vida é feita arte, não passa depressa

13/11/2014

Soneto de Afeto (versos)


Às vezes eu queria ser teu sorriso
Em outras, queria que você fosse o meu
e quando vez ou outra causo o teu
acabo encontrando aqui algum carinho

E até descubro uma afeição
uma pura e agradável afinidade
maior que uma comum amizade
sem chegar a ser paixão

Me perdoe, senhorita, então
se não resistir à tua graça
Este carinho, se irmos em oposta direção

que seja um que não passa.
Você estará neste coração
não importa o que eu faça.

12/11/2014
A. Câmara

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Não Posso Parar (conto)



Não posso parar.

Andava apressadamente sobre a calçada de concreto liso, a chuva deixava seus passos arriscados e escorregadios. Ela abraçava a bolsa de papel como se fosse ali que estivesse contida sua única chance de salvação. Os postes lançavam sobre a rua escura uma luminosidade amarelada e nada eficiente, o que deixava muitos pontos no trajeto totalmente enegrecidos. Os cabelos estavam ficando pesados pelo acúmulo da chuva fina que descia sobre ela, e o casaco já não podia impedir que tremesse de frio.
Os passos eram vacilantes sobre as sandálias de salto médio, o constante movimento de olhar para todos os lados prejudicava a excelência do andar, o que a levou a estar prestes a se chocar com um poste ou uma árvore vez ou outra. Já tropeçara num ressalto do pavimento mais de uma vez, e em todas elas achou que seria o fim.
A água da chuva misturada ao suor.
As lágrimas varrendo as gotas de água nas faces suaves.
Os olhos vidrados, avermelhados, e escravizados pela constante vigilância.
Ela ouvia.
Ela via.
Mas estava lá?
Em cada beco escuro havia a silhueta negra, recortada pelo brilho distante d’alguma lâmpada amarela. Cada poste lhe sussurrava, cada janela a observava, cada passo que dava parecia ser acompanhado por algum outro, mais pesado, mais bruto, mas raivoso, às suas costas. Sentia seu cabelo pesando e virava rápido o rosto para o outro lado, buscando surpreender quem o tocava, mas eram mais rápidos que ela. Voltava novamente o rosto e do outro lado ele também escapara.
O choro, acompanhado por uma súplica calada, apenas por escapes de voz evidenciada. Por choramingos, burburinhos, ganidos e sufocos.
O controle sobre as mãos era prejudicado pelo tremor excessivo, vez ou outra o pacote ameaçava escorregar e se lançar no chão molhado.
Vinha alguém de frente.
Andava devagar, sob a sombra de um guarda chuva.
Ela estacou.
Indecisa se voltar para de onde a perseguiam ou ficar parada se deixando alcançar pelos dois lados. Quando parou, seus olhos foram chamados para o alto.
As casas.
Altas, manchadas de chuva e sol, com janelas profundas nas fachadas.
Se dobravam, se fechavam, se estreitavam.
Engolindo o céu nublado e escuro, entortando as retas, fazendo barulho em seus ouvidos.
Ela irrompeu em gritos e se abaixou na calçada.
A mulher passou sob o guarda chuva, contornando-a a alguns passos de distância, passando pelo asfalto em vez de pela calçada. Uma expressão de pena e rejeição na mesma cara.
Quando o guarda chuva passou, ela olhou para cima, e voltou a andar. Então as casas retrocederam.
Não... não posso parar.
Os sussurros vinham agora mais de perto, os vultos nos becos começaram a ficar ao lado dos postes, embarreirando seu caminho. Ela parou outra vez, as casas voltaram a se fechar. Voltou-se para o outro lado, e eles corriam de um lado ao outro da rua, rápidos como passarinhos. Surgiam aqui e logo estavam ali. Se viam lá e subitamente estavam bem em frente.
Ela gritou e recuou.
Eles estavam atrás, estavam à frente.
Nas janelas, nas escadas, nos carros, nos telhados, nas árvores.
No seu ombro.
- Não! Sai de perto de mim!
Pisou fora da calçada, eles se aproximavam.
- Fica longe, sai!
Uma luz forte, uma buzina e uma freada brusca e derrapante.
Ela teve suas pernas atingidas pelo para-choque, rolou sobre o capô e rachou o para-brisa. Então rolou de volta e caiu no asfalto molhado.
Eles estavam em todo canto.
Ao redor.
Se aproximavam, tocavam nela, batiam em suas faces e a chamavam.
Ela não conseguia se mexer, não conseguia reagir.
Apenas via.
Ela apenas ouvia.

O Cantarolar do Zelador (conto, ou crônica... sei lá)



O Cantarolar do Zelador

Era uma noite quente, a sensação de quando se andava através do ar úmido e abafado era a de estar atravessando o sopro de uma boca, por mais bizarro que isso possa soar. Parecia que a escuridão do céu estava mais densa, parecia que o negrume da noite descia do alto e comia as beiradas da luz dos postes. Não se via estrela, ou forma de nuvem, apenas o manto negro. Por ser uma ilha, o isolamento trazia a impressão de termos sidos pinçados da malha da realidade e então despejados em algum recipiente de dimensão alternativa. E aquela sensação, a repugnância pela luz artificial que rodeava por todo lado, o desejo inconcebível de estar em outro lugar, de sentir qualquer coisa minimamente confortável.
Fora isso, havia a destruição. A lama, as algas carregadas, os peixes mortos na beira das calçadas. As pequenas árvores atravessando as ruas e, quando muito compridas, entrando em janelas de prédios. Pisávamos cacos de vidro e telha escondidos na lama e nas poças. Lá longe, as pontas das ondas desenhadas pelo pouco alcance da luz artificial, o mar ainda subia e descia. Subia de novo ameaçadoramente, dizendo que ainda tinha muito mais, e então recuava. Apesar de tamanha desolação, o farol mantido pelos poucos habitantes permanecia imbatível, altivo e imponente, a velha tinta descascada e a ferrugem em seus corrimões eram as rugas de um velho sábio. Ele ainda velava pela segurança de sua jurisdição, sua poderosa luz girava solenemente por sobre a destruição que o cercava. Felizmente, contudo, nenhum morto.
A tempestade fora tão súbita que o primeiro trovão ouvido foi interpretado como o som de um contêiner se desprendendo de um guindaste, apesar de não haver contêineres nem guindastes na ilha. O dia foi todo fustigado pelo sol intenso e em meia hora as nuvens fecharam o céu, as primeiras gotas chegaram na horizontal, carregadas pelo vento. Com o vento, vieram as ondas. Primeiro de longe, brincando, crianças que provocavam, ameaçando fazer alguma traquinagem. Depois vieram determinadas contra nossas débeis muretas. A água verde embranqueceu e subiu, as muretas estremeceram, o rugido foi mais intenso que o dos trovões. Só foi preciso alguns minutos para que as barreiras começassem a perder reboco e depois tijolos, o primeiro buraco encheu de desespero os ilhados e a água invadiu. Arrebentando asfalto do chão, levantando raízes e abaixando copas, castigando o vidro das janelas, batendo às portas e entrando pelas beiradas. E tão rápido quanto a viração do dia quente para a tempestade, virou a tempestade para a noite quente. O dia fora quente e a noite agora mantinha o legado.
- Não temos condições de continuar aqui, o gerador não pode ficar tanto tempo funcionando, é velho. Vai levar muito tempo para fazer funcionar de novo o outro gerador, que foi inundado. Precisamos contatar o continente pra mandar uma outra equipe. – disse o mecânico da ilha. Saliente-se: mecânico, pedreiro, metalúrgico, técnico de refrigeração...
- A cozinha está destruída, a janta tá toda no meio da lama no chão, e o ralo entupiu. Só sobrou o que tinha nas frigoríficas, hoje ninguém janta. – disse o cozinheiro. Só isso mesmo.
Todos murmuraram em desacordo, era claro que ninguém queria, além da devastação, a desgraça de dormir sem jantar. Estávamos no segundo andar do prédio onde funcionavam auditórios, um pequeno escritório e os laboratórios recentemente improvisados dos pesquisadores. Um dos poucos lugares que tinham permanecido intactos, junto com os alojamentos, felizmente.
- E se o gerador der problema, não é melhor você começar a dar jeito no outro? – disse uma pesquisadora preocupada com organismos microscópicos que mantinha vivos numa câmara refrigerada, que funcionava a eletricidade.
- Não tem nem bananas? – perguntou alguém a quem não foi dada atenção.
- Como vamos chamar outra equipe se a antena do rádio caiu? – disse o responsável pela eletricidade e pelos sistemas de comunicação.
- Como caiu se fica na laje? Que onda é essa? – disse outro pesquisador.
- O rádio fica no outro prédio, mas a antena ficava aqui em cima que é mais alto. Uma árvore tombou e saiu arrebentando o cabo, e puxou a antena junto. – explicou o técnico.
- E você não pode consertar? – disse o cozinheiro.
- Posso sim, se você encontrar o cabo no meio da lama pra mim.
- Ah, mas isso é responsabilidade tua! – rebateu o cozinheiro, talvez sem perceber a ironia.
Enquanto isso, eu, o cara que estava ali só para fotografar uma queda de meteoritos, tarefa sugerida por um amigo astrônomo, estava à janela olhando a escuridão. Alheio às discussões e divergências de uma equipe da qual eu não fazia parte, onde eu não tinha voz nem dever, apenas o dever do “obrigado pela gentileza e hospitalidade” quando viesse o barco me buscar no dia seguinte. A câmera pendurada ao meu pescoço só tinha as fotos da tempestade e da destruição, nenhum meteorito riscando o céu, comoo eu esperava. Frustrado pela súbita tempestade ter-me feito ir ali à toa, eu buscava algo para me livrar dessa angústia do isolamento e da falta de conforto, e o buscava olhando a destruição pela janela. Ali, a poucos metros da entrada do prédio, vi o homem de mais idade na ilha. Encurvado para o chão, empurrava a lama com uma vassoura e cantarolava uma canção que eu nunca tinha escutado. Em meio a tanta agitação, achei interessante o cantarolar daquele homem. Se ele estava mesmo disposto a limpar a lama, ia levar um tempo absurdo e ter um trabalho gigantesco, principalmente em vista do pequeno círculo que ele já limpara comparado à grandiosidade do chão daquela pequena ilha.
- Ei, gente. – chamei. – Olha isso. – vieram dois dos três que me ouviram. Eram pesquisadores, que mais faziam uso dos serviços dos que discutiam.
Ao verem o que eu apontava, disseram:
- Ah, liga não... esse cara é doido.
- É o zelador. Até trabalha bem, mas é meio estranho.
E os dois se afastaram da janela. Olhei para trás, os ânimos ferviam cada vez mais, e vi que achava o cantarolar daquele velho zelador muito mais interessante do que os mantenedores da ilha iriam decidir. Com rádio ou não, eu estaria fora da ilha de manhã. Se não jantasse hoje, pelo menos eu estaria no continente a tempo de almoçar no hotel. Nada daquilo me interessava, mas o velho zelador me deixou curioso e até feliz por ver algo diferente. Eu abominava aquele calor, aquela sensação de isolamento, aquele gosto de sonho desagradável, aquele incômodo estupor de realidade questionável, e vi que o zelador era minha salvação para aquela agonia.
Desci, sem ser visto por ninguém. Pelo tom das vozes, alguém seria agredido em pouco tempo. Encontrei uma outra vassoura e me aproximei do zelador. Aproveitei enquanto estava distraído e tirei uma foto. Ele me recebeu com um sorriso de satisfação, me viu abaixando a câmera e segurando determinadamente a vassoura. Não disse nada, apenas me apontou para que direção limparíamos a rua. A intenção era clarear a área que ia da frente do prédio até onde uma árvore caída atravessava a rua. E apreciei de perto o cantarolar macio e grave, esbanjante de alguma alegria antiga que devia ter sido muito boa para durar até ali, uma armadura para as intempéries que poucos tinham. O trabalho era cansativo, mas tendo apenas um terço da idade do meu companheiro de faxina, me empenhei ao máximo para não fraquejar. Por fim, chegamos à árvore e ele parou, abanando o calor e pingando de suor.
- O senhor não viu o que estão discutindo lá em cima? Dizendo que não podem mais manter a ilha depois disso?
- Ouvi por alto, quando o mecânico chamou todo mundo pra reunião. – sua voz era melodiosa e dava vontade de sorrir.
- Então por que o senhor tá se esforçando tanto?
- Meu filho, é uma pena se eles acham que não dá pra fazer a tarefa deles. Eu acho que ainda dá pra fazer a minha, e to fazendo.
Eu ri. Pegamos a vassoura e continuamos limpando.


Anderson Câmara
31/10/2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Na Pandora.

O blog da Pandora Fairel auxilia escritores jovens e iniciantes, e jovens iniciantes, a sanarem suas dúvidas a respeito do enorme trabalho que é publicar e escrever.
Além de ótimas resenhas de livros e relatos sobre o próprio processo de criação (Pandora, é claro, é escritora), o blog está abrindo o Quadro do Autor Nacional, no qual tive a honra de ceder um poema para a estréia.
\o/




Não faço propaganda exatamente do tal poema, o blog em si é imensamente proveitoso e divertido, e com um design consideravelmente melhor que esse aqui. rs

Confira no link abaixo:

http://pandorafairel.com/2014/10/21/quadro-do-autor-nacional-perdido-no-aroma-da-flor-poema-de-anderson-camara/

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

(mais) Um rápido pensamento sobre a futilidade humana e seus jornais. (crônica)



Lá pra 1870, lia-se nos jornais uma humanidade com as mesmas crueldades e ridicularidades de sempre, mas uma sociedade diferente. É evidente que os jornais exprimem a sociedade de suas épocas, e em 1870 via-se uma humanidade egoísta e vil, que busca os próprios interesses e pisa no semelhante para alcançar seja lá o que queira. Os “classificados” da época anunciavam vendas de escravos, humanos como mercadoria, e exaltavam os latifundiários, que matavam por uma porção de terra que nem usariam.
Algumas décadas à frente, os jornais já não falavam de Reinado ou escravos. A humanidade evoluía rápido. A física avançava, a indústria crescia, os sobrados viravam prédios. Contudo, a escravidão permaneceu disfarçada, os operários e soldados pouco recebiam pelo que muito faziam, e pouco viviam para o que muito trabalhavam. A humanidade evoluiu mais, os direitos trabalhistas vieram assentar a poeira levantada por essa nova forma de conduzir o mundo. Mas ainda o ser humano era visto como mercadoria para aqueles que muito possuíam. Já matava-se por uns dinheiros que permitiriam um torpor que levaria os esquecidos a esquecer o peso da sola que tinham neles pisado.
Preferiu-se o lucro à sustentabilidade e logo os jornais começaram a falar de clima, de água, de lixo. A humanidade crescia, e não havia mais quem a ensinasse a trocar as próprias fraldas, e quanta fralda, meu Deus!
Fruto dos primeiros a evoluir? Ou frutos dos que apenas copiavam a busca pela própria tranquilidade, conforto e boa posição e não souberam, ou não quiseram, evoluir?
Daí, os jornais descortinaram a completa futilidade humana. Não se lia mais sobre avanços da ciência, mas sobre a patética trajetória da moça seminua da capa, encimada por uma manchete que era uma frase de duplo sentido a letras garrafais.
“VENHA, OLHE ESSA BUNDA, LIBERTE SEU INSTINTO, COMPRE E ME DÊ DINHEIRO”
E como acumulam-se e somam-se cada vez mais as notícias de morte, e roubo, e estupro, e escândalos, e banalização da vulgaridade e sodomia, além da falta de soluções para os problemas gerados pela sociedade que não aprendeu a evoluir, a forma de vender sem ser repetitivo, como os jornais têm (superficialmente) se tornado nos últimos vinte anos, é tratando disso com deboche. Por que, além da moça que vende a própria imagem na capa feito doce de vitrine de padaria, o leitor pode também rir da prisão de algum pedófilo, de um assassinato dum bandido... Aliás, editores e redatores de meio real, sejam gratos aos pedófilos e bandidos, o que venderiam sem eles e as bundas?
Ah, sim. Evoluímos, claro. Agora temos telefone, televisão, internet, correio, câmera, jogos, rádio, toca discos, tudo num aparelho menor que um cartão de aniversário. “Veio aqui em casa só pra me falar isso? Podia ter mandado mensagem não?” É... evoluímos.
No fim das contas, foi sempre por dinheiro. Vende-se de tudo, até barato, enriquecendo um e outro enquanto pagamos quase dez reais numa bebida que faz mal. Enfraquecem-se os ossos, esvazia-se a carteira e mantém-se o império de alguma meia-dúzia de ricos associados.
E dessa forma, diferente dos poderosos que pagavam pelos escravos, a humanidade que sustenta esses magnatas acaba pagando pela própria escravidão. Seja por uma TV que pifa em poucos anos para que se compre outra, seja em mover-se pelos instintos reprodutivos, seja pelo incompreensível prazer no vício das telinhas de LED que dispensam sorrisos e apertos de mão nas “relações” humanas.
E os jornais mostram que quanto mais o humano tenta ser grandioso, mais ele prova ser fútil.

Anderson Câmara
25/09/2014

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Vida é Poesia (uns versos)

A vida é poesia
Por Deus escrita
que todos leem depressa
e poucos veem que passa

De leve tangem suas rimas
como crianças à corda de violão
Mas o poeta é quem grita:
"Aprendam a tocar uma canção!"

Anderson Câmara

domingo, 19 de outubro de 2014

Fotografia também é Arte, né? (de um amador com um celular metido a fotógrafo...)



Tem bicho mais elegante que o pavão?


Duas cores. (desenho)



Deste belo quadro pintado pelo Criador chamado Natureza,
as duas figuras que mais se destacam em beleza,
ou pela dependência que por elas têm a própria vida,
são a árvore e a mulher.  


domingo, 7 de setembro de 2014

Combatendo a Esperança (uns versos)

Cada palavra tua
me furta a atenção
e caio numa investigação
dos teus costumes e outros
gostos, alguns desgostos

Em cada sorriso teu
me torno dependente
dessa graça envolvente
Me empenho em buscar
qualquer ato capaz de gerar
outra visão de tão bela
expressão alegre
duma alma pura e leve.

Que me inspira 
em versos, rima e vida
a buscar os bons atos
os justos e puros atos
de caridade e temperança

E no observar desta múltipla beleza
Sou forçado a uma dura peleja
Em que combato a esperança
de um dia digno vir a ser
de, perto de ti, receber
um olhar de semelhante afeto.


Anderson Câmara
03/09/2014

A Futilidade Atual (uns versos)

A futilidade atual.


Escadas? Só rolante.
Bravura? Só ao volante
ou por meio virtual
afinal, esse mode de ser navegante
já se solidifica ao normal.

Comida? Bem rápida.
Bem salgada, barada
"Pra viagem, tenho pressa."
E essa comida expressa
insípida e solitária
virou normal.
Quem hoje senta à mesa
para o almoço dominical?

Namorar? Só a parte fácil.
Conviver, compromisso?
Tem meio mais hábil
          (ou omisso)
"Te amo já, não precisa casar"
Bela desculpa para ser simples escapar.

Filhos? Só acidente
Tendo computador no quarto
quem precisa de pai presente?

Família? Isso é coisa antiga.
Ultrapassada
Quem afinal precisa
do pai orientador
ou da mãe amorosa
ou de irmãos companheiros?

Jornalismo com seriedade?
Bota umas bundas na capa
nem precisa ter faculdade.
E quem quer saber de analfabeto?
Fala da nova namorada vadia
de algum famoso da vida
e seu relacionamento aberto.

Estudar? E perder o sabadão?
Na hora  agente cola, só ficar no fundão.
E se não conseguir o cinco
só fazer de novo na recuperação
E fazer de doido esse professor fanfarrão.

Depois de tanto evoluir
a gente virou a própria epidemia
e começou a regredir
mais rápido do que evoluía.


Anderson Câmara
20/08/2014

Meu Sonho de Dia (poesia)

Me apresso em percorrer
meus sonhos da noite
se o dia me prometer
tua boa companhia.

As maravilhas inconscientes
perdem o brilho e beleza
se espero por tua envolvente
alegria e pura gentileza.


Anderson Câmara
06/09/2014

Moça de Escritório


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A Grandiosa Insignificância do Ser Humano

Se levarmos em consideração a simplicidade com que complexamente o ser humano é cconstituído,  temos um leve vislumbre do quão maravilhosa é a vida. Carbono, Nitrogênio, Hidrogênio e Oxigênio. Basicamente é isso, a esse nível você é igualzinho à cadeira onde está sentado. De alguma forma, esses elementos se combinaram de um jeito que montou você. Partindo da afirmação que o ser humano nada mais é que um animal racional, analisemos os animais que são assim tão semelhantes a nós. Um macaco que consegue martelar é incrível, não? Mas para os padrões de façanhas humanas, isso não é nada. Por que o humano se tornou tão superior ao macaco e tão superior à cadeira se é tudo basicamente a mesma coisa? Digamos então que o comum seja o que vemos no reino animal e que sejamos nós a anomalia neste meio. Olha só que magnífico é o ser humano: capaz de construir, de escrever, de se comunicar de forma tão abrangente e precisa que duas palavras parecidas chegam a soar a mesma coisa a um leigo. É capaz de criar sistemas tão maestralmente incríveis usando de recursos tão simples, foi capaz de descobrir e utilizar a eletricidade, uma força absurda que tem origem subatômica, para as coisas mais incríveis e para as mais banais, como transportar um trem com duas mil pessoas ou esquentar uma torrada. Foi capaz de desenvolver a escrita, inúmeras e infinitas formas de expressar inúmeras ideias com apenas 26 letras, e isso com vários idiomas. Aprendeu a moldar a terra de forma a fornecer o sustento, mesmo que não seja capaz de fazer isso sem destruir tudo. Foi capaz de criar sistemas complexos de administração, desde o equilíbrio entre o uso dos sapatos à tarefa de administrar um país de 180 milhões. A ironia é que a falha nos sistemas humanos é o próprio humano, de tão complexo e imprevisível. E de tão completo, eficiente e engenhoso que o ser humano pode ser, ele se esquece que é apenas C, N, H e O. Vulgarmente falando, esquece que é apenas uma cadeira muito sinistra. O ser humano, vendo o quão sábio se tornou, e o quão superior é em relação aos demais seres orgânicos, ousando ser superior à natureza que devia respeitar, se acha muito mais do que é. O ser humano também quebra, rasga, queima, para de funcionar do nada, a mente brilhante estraga por uma lesão até pequena. E quando acontece um mal desses o ser humano lembra que é frágil, que por mais que se cuide, dificilmente vai ver míseros cem anos se passarem. E em vez de devolver a honra e a glória ao Ser que o fez ir do C,N, H e O à espécie dominante cuja ambição alcança outros planetas, ele ignora sua fragilidade e se tranca num estado alienado de otimismo e autoconfiança que só tendem a tornar o fim um pouco mais doloroso. O homem pensa que pode tudo e que vive para sempre, e então se esquece de Deus. Ignora que veio dele e fecha os olhos para os sinais dessa dependência que tem a magnífica criatura pelo seu supremo Criador.

domingo, 3 de agosto de 2014

Políticos em Oferta (uns versos)

Políticos em oferta.

Venham, aproveitem a oferta
estamos em promoção
Com pouco na mão
você leva muitas destas

Dois vereadores
por uma moeda de cinquenta
Nem todos os vendedores
ofertam assim, vê, experimenta

Cinco num saquinho bem legal
Por vinte e cinco centavos
e de brinde um federal.
Você leva é seis deputados

E por cinquenta, lado a lado,
ex e atual presidente
Têm todos o mesmo valor corrente
pois são todos do mesmo saco.

29/07/2014

Fotografia também é arte, né? (2)






Eu e meus personagens.

Que tal falar algo sobre o processo de criação? Particularmente eu sempre achei interessante as peculiaridades de cada autor, mas aqui eu falo de algo que me foi "ensinado" e que constatei como verdadeiro depois que amadureci no processo de criação.

A princípio, peço perdão pela individualização do título. A razão disso é que narro a maneira como este autor funciona, os processos podem ser diferentes para cada um.

Não sou bom com dissertações, este blog é um refúgio para minha escrita desleixada, por isso vou direto ao assunto: eles te dominam.

Foi isso o que ouvi de uma escritora já experiente, lá nos meus longínquos (nem tanto) 17 anos. Não tinha escrito nada além de fanfics até aquele dia, e foi essa a conversa que me incentivou a criar. Eu, a princípio, achei incomum aquele conceito, e o rejeitei. Ela insistiu: "quando você começar a escrever, eles vão te dominar".
Mas como? Como algo fictício, que está se formando dentro da minha mente, pode ter mais voz que eu? Como pode um ser que nem existe ter autoridade sobre o que eu vou escrever sobre ele?
Isso me lembra um conceito novo que conheci recentemente, o de que a poesia não é visitada por nós, é a poesia que nos visita. E quando ela não está a fim, os versos saem forçados...
Você idealiza um personagem para um determinado enredo que você pretende escrever. Você "precisa", por exemplo, de um vendedor de mercearia que seja simpático com todos. Mas, quando vai escrever a primeiríssima fala do vendedor, ele diz uma arrogância. Você acha estranho, tenta apagar e reajustar, tenta fazê-lo ser gentil, mas tudo que você escreve pende para a ignorância do tal. E num momento em que você escreve sem se preocupar com ele, aí surge uma arrogância ainda maior. Você reclama, apaga, reescreve, mas o personagem bate o pé e diz: "eu sou assim!". E a partir daí, não tem mais o que fazer. O personagem já ganhou vida e tomou o controle sobre si mesmo.

Mas quem escreve sabe que isto não é exclusividade para as personagens. O enredo muitas vezes sai dos limites de nossas mãos, crescendo e se enraizando tanto que não caberia em um só volume. Isso nos leva a ponderar se o processo criativo realmente é um mérito do escritor. Não há dúvidas de que a história nasça e cresça dentro da cabeça do maluco que quer escrevê-la, mas todos concordam que é um processo praticamente autônomo. A criatividade é algo inconsciente. O escritor não procura a ideia, ela vem a ele.

Isso é defendido pelos súbitos momentos de inspiração, que já me puseram sentado dentro de uma livraria e me fizeram escrever freneticamente por meia hora me fazendo perder o ônibus para voltar pra casa, ou os conflitantes momentos de infertilidade. A disponibilidade para escrever sempre se conflita com a inspiração, e isso não acontecesse, talvez, se a criatividade fosse mais consciente... assim creio eu.

E para contradizer a mim mesmo, este processo é exercitável. Não me pergunte como, não sei como desenvolver o processo criativo. Para isto, não há manual, não há dicas... apenas a compreensão de si próprio, o que é a parte mais difícil.