segunda-feira, 28 de setembro de 2015

O que realmente é literatura fantástica?



Mais um vídeo do canal no youtube, falando um pouco sobre o que é a literatura fantástica e suas origens.



domingo, 27 de setembro de 2015

Fragmentos na Bienal III



Dando sequência, o poema Sobre Solidão foi lido e declamado com maestria por Antônio Navarro, autor de Praia dos Anjos.

Confere aí...


domingo, 20 de setembro de 2015

Fragmentos na Bienal II

Aqui vai um vídeo do canal em que um poema do Fragmentos é declamado por Vanessa Lemos, do blog Cooltural.



https://www.youtube.com/watch?v=dX9Ip0AmwpI

Inaugurando o Canal do You Tube


Nesse primeiro vídeo falo um pouco sobre o Fragmentos e sobre alguns artistas que tão no mesmo barco, só que um pouco melhores que eu. rsrs

https://www.youtube.com/watch?v=pmP_f_J4hao&feature=youtu.be

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

[Conto] Sabe com quem está falando?

Sabe com quem está falando?

Jorge da Silva era um sujeito bastante simpático, adorava ser prestativo com os amigos e se divertir das mais variadas formas. Tinha uma bela esposa, sete anos mais jovem que ele, e dois filhos já adultos e mais bem sucedidos que ele, estavam sempre mantendo contato e suprindo as necessidades que seu pequeno emprego não dava conta. Irritava-se pouco, mas era daqueles que quando chegava a ponto de ficar nervoso, era melhor ficar longe.
Seu pequeno emprego era um tanto estressante, depois de ser sócio de um mercadinho que fechou depois de uma visita da vigilância sanitária, conseguiu emprego numa agência do Detran. Óbvio que ali era um lugar frequentado por todas as classes sociais, e isso gerava alguns transtornos por conta de gente que estava acostumada a ter tudo à mão e agora tinha que esperar na fila igual a qualquer trabalhador.
Costumava ser um faz tudo naquela agência, e naquele dia estava suprindo a falta da garota que dava informações. Mais ou menos ao meio dia chegou na agência um senhor um pouco mais velho que Jorge, e consideravelmente bem vestido. Observava da porta a muvuca que enchia o lugar, altivo, o pescoço esticado como para se manter acima de todos. Arrastou uns sapatos caros até o homem baixinho e barrigudo ao lado da placa de “informações”.
- Eu quero renovar minha CNH. – disse.
- Bom dia, senhor... – começou Jorge com sua fala alegre e cantante, que destoava do visível mau humor do cliente – Renovação de CNH é na fila do caixa três, não demora muito. É só o senhor dar o CPF e o boleto pago que eles veem lá o pedido que o senhor fez pela internet.
A cada passo que descrevia, o homem subia mais as esparsas sobrancelhas brancas. Ele olhou para a fila, virando o pescoço bem lentamente, e depois de volta. Então as sobrancelhas já tinham descido.
- Sabe com quem está falando?
Desta vez quem subiu a sobrancelha foi Jorge.
- Me perdoe, senhor, mas não sei. Antes de vir aqui pegar a CNH o senhor tem que fazer o pedido pela internet e pagar...
- Você ouviu o que eu disse? Sabe quem sou eu? – falou mais ríspido e mais alto, chamando a atenção de um rapaz ali perto que estivera futucando o celular.
- Não, quem é o senhor?
- Sou o secretário de fazenda desta cidade. Hoje um políciazinho de merda quis me segurar por causa dessa carteira. Só precisei fazer um telefonema e ele se arrependeu. Quer que eu faça isso com você?
- Senhor... Se acalme...
- Não me mande ter calma! Eu sou o secretário de fazenda! – quase gritou.
- O senhor deve fazer o pedido pela internet.
- Eu sou o secretário de fazenda, você acha que eu tenho tempo pra ficar perdendo tempo na internet e indo ao banco?
- Senhor secretário, o senhor tem trinta dias...
- Ah, de novo essa conversa de trinta dias!
Jorge sentiu aquela raiva brotando no interior, mas respirou fundo e disse:
- Certo... O senhor pode me deixar ver sua Habilitação? Vou levar o caso ao meu superior e ver o que ele pode fazer.
- Finalmente você entendeu. – disse o homem apanhando o documento no bolso interno do paletó.
Jorge pôs os óculos de leitura e verificou que a data de validade da CNH que segurava já tinha sido ultrapassada em quarenta e três dias.
- Senhor... Sua carteira já está muito ultrapassada. O senhor vai ter que fazer toda a reciclagem.
- O que? – murmurou o secretário.
E aquilo fez seu coração se atiçar de raiva.
- O senhor tem que frequentar as aulas novamente e fazer as aulas de direção, não dá mais pra renovar, infelizmente.
O homem fez uma cara de espanto tão estranha que Jorge quase pensou que ele estivesse passando mal. Então tomou do celular no bolso da calça e fez uma ligação em sussurros.
- Você vai se arrepender, vai ver... – disse o secretário sorrindo, então deu as costas e ficou do lado de fora da agência, olhando a rua.
A raiva de Jorge passou logo quando começou a atender a fila que se formara. Se distraiu, riu com uns colegas, até comentou o caso do secretário com uns mais chegados. Sentiu-se gelar por dentro quando um carro preto acompanhado de uma viatura de polícia estacionou do outro lado da rua em frente à agência e um homem enorme, de camisa preta, calça jeans e uma arma na cintura, caminhou até o secretário. Vieram também dois policiais fardados e o grupo formado na porta entrou.
- É aquele ali. – disse o Secretário, apontando e fazendo questão de chamar a atenção de todos no recinto.
O homem armado e à paisana se aproximou, era maior que os dois policiais que o acompanhavam aos lados.
- Você é que atendeu o senhor secretário?
- Sim... – disse Jorge, quase tremendo.
- Você está preso por desacato a autoridade.
- Que? – disse sem se conter, rápido como um fósforo se acende, o medo virou raiva e indignação. – Eu não fiz nada! Tratei ele com todo respeito e dei as informações que precisava!
- Calma, vai poder prestar depoimento na delegacia. – disse um dos policiais quando os dois o tomaram pelo braço e empurraram a caminhar.
Jorge empacou feito um burro.
- Não vou pra droga de delegacia nenhuma, isso não é justo. O cara deixou a carteira vencer, não quer seguir os procedimentos e a culpa é minha?
- Sabe com quem está falando? – gritou o homenzarrão. – Eu sou o Coronel Ferreira, da Polícia Civil! Você agora tá preso por desacatar também a mim e por resistir à prisão! – virou-se para os policiais militares. – Pode algemar ele!
Jorge arregalou os olhos de incredulidade e espanto e sentiu o queixo tremer de nervosismo, sabia que era o estágio mais perigoso de sua raiva, e deu graças a Deus por ter sido algemado.
Enquanto era empurrado para dentro da viatura, viu o supervisor da agência falando com o secretário; encurvado e sorrindo, só faltava se ajoelhar e beijar o sapato brilhante que ele calçava.
Jorge não tinha dinheiro para fiança, mas conseguiu ligar para o filho em Brasília, que ocupava um cargo público parecido com a figura que o prendia agora. Não conseguiu falar diretamente com ele, falara com a secretária, e sabia que levaria ainda um tempo para isso.
Foi largado numa cela quadrada de dois metros por três, com quatro beliches e sete presidiários, além dele. Viu-se injustamente inserido num ambiente do qual destoava completamente. Um homem correto, de boas maneiras e bons princípios, no meio de uns que tinham sido privados da vida pública por não respeitarem a ordem da sociedade. O tempo todo ficou jogado nas grades, os braços pra fora o máximo possível, evitando se misturar àquela estirpe o mínimo que fosse.
Num dos beliches se sentava um homem de uns trinta anos, tão gordo que dava a impressão de escorrer de sobre si mesmo. Os outros seis homens dirigiam-se a este com respeito e até com algum temor. Só foi preciso estar na cela por uma tarde para concluir que o obeso fora o pior dos presos ali, tinha sido acusado de matar o irmão por algumas gramas de droga. Os demais eram meros assaltantes e ladrões estúpidos e azarados.
Às sete horas um carcereiro veio trazer uma janta que, assim como os beliches, não era suficiente para oito homens; o estado supria o presídio conforme o projeto e não conforme a situação real. Suspeitou que cada homem fosse comer metade do prato, visto que era uma cela para quatro preenchida por oito homens. Mas o que viu o deixou estupefato. Deram um prato inteiro para o gordo somada a uma porção de cada um, deixando para Jorge um punhado de arroz sujo com caldo de feijão e a parte mais ossuda da galinha. Nem sequer viu um grão da farofa. Calados, os homens comiam pouco enquanto o gordo, com modos repugnantes, se fartava.
- Ei, cara... Isso não é justo. – falou Jorge, irredutível. Imediatamente todos o olharam assustados. – Isso aqui que me deram não enche nem o buraco do dente!
O homem gordo afastou a quentinha lotada, encurvou-se para a frente e apoiou as mãos nos joelhos, aproximando a cara imensa da dele.
- Vem cá... – cuspiu farofa. – Você sabe com quem está falando?

sábado, 12 de setembro de 2015

Fragmentos na Bienal (1º Parte)

A Bienal do Livro de 2015 foi a primeira em que Anderson Câmara (ego) participou como autor. Embora nenhuma editora estivesse divulgando, o Fragmentos esteve presente lá.


Devo avisar que tenho vários exemplares do livro, e pretendo fazer lançamentos, que vou informar assim que tiver horário e local. Até lá, você pode adquirir o seu pelo Clube de Autores, ou comigo mesmo. :D

Na Bienal tive a oportunidade de encontrar grandes artistas pouco conhecidos, mas ainda mais conhecidos que eu.






Estive com Brooke J. Sullivan, autora de livros românticos para mulheres, como Identidade, Como foi Depois de Você, A Escolhida e outros. 
O Face dela aqui embaixo, explano mesmo.















Também conheci Antônio Navarro de Andrade, um escritor premiado que trazia nas mãos seu livro, Praia dos Anjos, na barba a sabedoria e no sorriso a simpatia.

                     (Além de ser um pouco parecido com o James Hetfield, do Metallica rs)









E uma figura que me chamou a atenção e tive sorte de reencontrar pelos corredores lotados do RioCentro foi a blogueira, professora e cosplayer Vanessa Lemos.

Além desta bela versão feminina do Pequeno Príncipe, ela contribui para a humanidade com o blog Cooltural









A arte é assim, nos encontra totalmente diferentes um do outro e nos torna iguais.








segunda-feira, 7 de setembro de 2015

500 Anos

1

Acabou o medievalismo
Navios e expansionismo
O Brasil "descoberto"
de uma península ali perto

O índio só quer viver
o branco chega e toma
o que nunca chegou a pertencer
nem a quem o tente defender

Um curioso
   outro escraviza
Um furioso
outro assassina

Traz o preto da África grande
Bota no tronco se quer ser livre
Assim essa terra nova se expande?
                      droga nenhuma

Napoleão tá quase no umbral
Irredutível, forte e vil
Corramos todos à nau
só nos resta esse Brasil

2

"Quinto dos Infernos" diz Carlota
Manda construir estrada 
e faça desta terra ferrada
um lugar onde Rei mora.

Volta pra cá, Rei João
Traz também teu filho
"Diga ao povo que fico"
Devasso Pedro é agora dono desse chão

"Imperador", Olhe só!
O Brasil é independente
pra ser por si só
cada vez mais decadente.

Decadente? Mas como assim?
Somos país, olhe pra ontem!
É, mas o pobre homem
só espera é seu fim.

3

Desde o começo
tem sido esse jeito
O grande faz seu desejo
de ter mais dinheiro.

E nisso pisa o pobre
o rico e ri e o outro sofre
Em um mês recebe
o que o outro gasta quando bebe.

E numa ironia dessa
o Brasil se mete em duas guerras
E como não bastasse tanta usura
ainda vem a ditadura.

4

O regime caiu, Brasileiro!
agora de nossa gente
elege um bom presidente!
"Eita, cadê meu dinheiro?"

Daí então, andou tudo igual
Deputado enriquece
Mas a gente logo esquece
Aí vem copa e carnaval

Assim, desde antiga data
a nobre casta
só trocou a coroa pela faixa

Prometem uma e outras mil
e nos fazem de tolos
Esse é meu Brasil, 
um país de todos.

Anderson Câmara

domingo, 26 de julho de 2015

Ninguém precisa de poesia

Ninguém precisa de poesia
Pra quê? Pra nada.
Ninguém precisa de poesia
pra se sustentar
até porque ninguém vai comprar

Ninguém precisa de poesia
pra namorar.
Não serve pra conquistar uma paixão
porque ninguém é mais romântico
e porque a moça vai ter preguiça
de ler o poema inteiro.

Ninguém precisa de poesia
pra dar um jeito no país
incitar aquela revolução, sabe?
porque também ninguém vai ler

Ninguém precisa de poesia
pra querer ser mais feliz
porque do jeito que revela 
o mundo e o interior humano
não é lá muito empolante.

Não é produtiva
Não é econômica
Não é essencial à vida moderna
embora trate de essências
Não é útil
Pra nada serve
Tá...
Sim...
Certo...
Mas e daí?
Anderson Câmara
26JUL2015

Falta

Se os caminhos contassem as histórias
dos pés que por ele caminharam
Se soubéssemos quão grande é 
a lacuna das histórias esquecidas
Quão grande é a vaga deixada
pelas palavras que não se permitem
ser ditas!

Se a gente pudesse escrever
e sonhar ao mesmo tempo
lembraríamos que o mundo
não é tão cinza assim
temos cores em si
se soubéssemos, talvez,
o mundo não trabalhasse tanto
a ponto de não ter tempo 
pra sonhar e dormir.

Não tem sentido
só tem essa palavra
repetida perpetuamente

Falta...
Falta o que?
Bem... se eu soubesse, não faltaria.
Mas a falta tá aqui.
Boa ou ruim...
Tem coisa mais presente
que a ausência?

Anderson Câmara
26JUL2015

domingo, 19 de julho de 2015

Palavras desperdiçadas

Catei umas palavras
que as pessoas desperdiçam
que elas soltam por aí
levianamente, inconsequentemente

Algumas eram minhas
só pra fazer rima.
Outras achei jogadas
pelos caminhos dos ares
que bateram em ouvidos cerrados
e se dispersaram flutuando.
Outras achei no chão
que entraram em ouvidos abertos
e se converteram em lágrimas.
Algumas eram grandes
palavrões sem função na frase
Muitos eram tolice intencional
As piores era até perigoso pegar
exalavam ainda o velho veneno

Varri todas elas, não couberam no balde
nem na caçamba, nem no lixão
Não caberiam na mais vasta biblioteca

Mas que absurdo! Não se faz livros
com palavras desperdiçadas.

Anderson Câmara
em 06JUL2015

Mortificus celebrat


Não há nada de belo no bélico
Não há glória em buscar glória
Esmagando seu semelhante
Que nada tem de oponente

Não há honra em fazer eco
Das lutas pintadas a óleo
Que fizeram teus ancestrais

Tolo e vil é quem espera
Ser louvado fazendo guerra

Anderson Câmara

Mentiras

Mentiras

Reforma política
Ser alguém na vida
Se você gosta, não é errado
Não desista de seus sonhos
Igualdade
Justiça
Dinheiro
Carne de soja

Anderson Câmara

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Fotografia amadora de baixa resolução.

A vaga e a crista
 A vida é assim. Num dia tudo é lindo, no outro não dá nem pra ver a ponte Rio- Niterói.


Nauis
 A visão de através de uma vigia.


Magnetita
 E uma das coisas mais fascinantes da natureza é o magnetismo. Alinha grampos de papel e desvia os raios solares na direção dos pólos criando a Aurora Boreal.


Leviatã
Sabe aquelas coincidências maneiras? A criança está deslumbrada lendo Moby Dick e quando ingressa na UERJ dá de cara com isso: metade da mandíbula de um cachalote.Nem precisa olhar pro espaço pra pensar um pouco na nossa altiva pequenez.

Crepúsculo
E um pôr do sol pra não perder o costume.

domingo, 28 de junho de 2015

Sobre solidão...

Há vantagens na solidão.
Você raramente terá problemas de espaço
E absolutamente nunca terá problemas de opinião
Ninguém vai ouvir seus eventuais surtos de tolice
ou rir de uma súbita vergonha.
Você poderá ser egoísta, soberbo, mentiroso, nojento
sem magoar uma pessoa querida.
Ninguém vai te fazer se sentir culpado
por se empenhar mais que você nas tarefas domésticas.
Não vai deixar ninguém sem dormir
quando for chegar em casa tarde.
E quando o espelho escarnecer de ti
por diante dele chorares
à trivialidade da existência humana,
você pode culpar a solidão pelas lágrimas.


Anderson Câmara
26Jun2015

Namorados

Lá eles vão
as mãos dadas
enlaçadas.
Com discrição
se dão a um beijo
de lábios feitos
com essa paixão
e falas ternas
de jura eterna
com emoção.

Talvez nem lembrem
que para sempre
nada disso é não.
Deixe ela e ele
não interpêle

Sem coração
a vida tênue
tem graça não.

Anderson Câmara
12Jun2015

A Bacia D'Agua

"Quero morrer", disse o aprendiz, "nada mais nesta vida privada de prazeres e entregue a inúteis reflexões me prende ao autômato mundo.
"Queres morrer", falou o mestre, "tens mesmo tanta certeza?"
"Tenho... o vislumbre da morte me é mais esperançoso que a longuidão sôfrega do viver."
"Então, se eu te oferecesse a morte, a aceitarias de bom grado?"
"Se me empurrasses montanha abaixo, não o impediria, nem lutaria, mestre."
O mestre se levantou e deixou seu contemplativo aprendiz à beira do precipício onde costumava ensina-lo. Distraído e soturno, o jovem se espantou quando o velho retornou trazendo um jarro d'água e uma bacia nas mãos. Deitou a bacia entre eles, sentou-se junto ao jovem e despejou a água na bacia.
"Deve haver um palmo de água na bacia. É o suficiente."
O aprendiz olhou o velho, confuso, que lhe apresentava a bacia com um gesto de mão.
"Mestre..."
"Sim. É o suficiente para o que tanto desejas. Mergulhe o rosto na água pelo tempo necessário e morrerás."
O jovem permaneceu parado, olhando da água rasa ao rosto sereno de seu mestre.
"Sabes por que esta ideia parece tão inconcebível?" disse o mestre, "O homem é feito para viver. Mesmo sendo frágil, é muito difícil provocar a morte não natural. Um nadador que esteja desapegado à vida e fica preso sob uma rocha, imerso numa caverna inundada, aceita seu destino por que não pode mesmo fazer nada. Mas é preciso uma imensa vontade e firme determinação para morrer afogado em um palmo de água. Isto por que entrarás em insuportável agonia e teu corpo desobedecerá tua determinação de morte."
O jovem estremeceu.
O velho continuou.
"Estás sem ânimo, apenas. Pensas que a única forma de escapar é passando da vida para a morte. Estás deveras ansioso, pensas que podes resolver como quando teus escritos falham e os queimas para iniciar outro. Mas não é assim com tua existência, a vida é preciosa, e não existe outra. Portanto, se abominas tanto esta vida e desejas tanto a morte, afoga-te nesta bacia."
O jovem inclinou-se sobre a água quieta, meteu a face até os olhos, bebeu da água e retornou à postura.
Ambos contemplaram juntos aquele crepúsculo sobre as montanhas e se retiraram à refeição.

Anderson Câmara

Poema

Isto, meu filho
é um poema
Com isso você fala de si
e, ao mesmo tempo, dos outros
Com isso você fala a verdade
mas sem falar que é verdade.
Dá uma de sóbrio pra dizer que és louco
Dá uma de louco pra dizer que és sóbrio
Não precisa de rima... tampouco
escrever com métrica exímia
Mas de vez em quando
faz até bem, portanto.
Sentido e ordem precisa não também
pois que cabeça de gente é mesmo bagunça
Mas dizem que a poética é centrada na mensagem
só que toda gente entende o que não entende
com o que só nela se entende
e com o que se contente.
Portanto, meu filho
ouça apenas isso
escreva e seja contente.

Anderson Câmara
27Mai2015

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O herói que queria ter medo

Enfim, após várias promessas e insinuações, posso anunciar a prévia do lançamento do próximo volume assinado por Anderson Câmara (é eeeuu).

E aqui segue a história da estória. Lê se for achar interessante, se não pode pular pra capa. (rs)
 
'O herói que queria ter medo' era a princípio um título provisório, quando a história era apenas uma ideia e no fim acabou que era o melhor título possível. Certo dia caminhava eu pelas ruas do Rio de Janeiro após mais um dia de expediente e me veio a súbita ideia. Entrei numa livraria, sentei num puff (era uma livraria muito maneira rs) peguei meu caderno de poesia, que era só o que tinha em mãos, e fui escrevendo. Em meia hora eu resumi todo o enredo, do início ao fim, praticamente pronto.
E, como todo bom escritor procrastinador, deixei isso lá pensando: "depois eu pego e trabalho nisso". E poucos dias depois surgiu o concurso da Saraiva, cujo prêmio era a publicação e divulgação pela própria Saraiva... e umas barrinhas de ouro aí...
Faltando um mês para fechar o concurso, escrevi o livro em 20 dias. Levava o notebook pro trabalho e no horário de almoço escrevia. Enfim... terminei no prazo e foi aí que descobri que bloqueio mental é 50% falta de inspiração, 50% pura e simples preguiça.
Mas não fui selecionado no concurso. rs

Aí embaixo tá uma prévia da capa do livro.
Anunciarei o lançamento a tempo. :)


Sinopse:
 Numa terra banhada por mares frios, no alto de uma cadeia de montanhas, um pequeno vilarejo é guardado por uma ordem de guerreiros em gradativa extinção, os Drakuins. Dentre esses, Hendor se destaca por ser o único totalmente incapaz de sentir medo, mesmo sendo cercado por homens poderosos, corajosos e valentes. Seus atos destemidos o põem em perigo constante, de modo que seus companheiros sofrem para salva-lo da morte durante as ações dos Drakuins.
Contudo, um inesperado ataque à vila traz a promessa de destruição por parte de uma antiga criatura de olhos ambiciosos. Os conselheiros da vila, antigos guerreiros cujas cicatrizes contam histórias, decidem então que o jovem heroi deve aprender a ter medo antes de aceitar este desafio.
E assim Hendor abandona o conforto de sua vila para se empenhar numa jornada em busca daquilo que todos os guerreiros evitam.


Aguardem... então aproveitem :D

Translúcida


És límpido diamante
entre cascalho sem valor
Mantenha perseverante
teu brilho e teu penhor

És vívida flor rubra
entre tantas que morrem
Não permita que sufoquem
tuas macias pétalas puras

És cristalina sinfonia
entre ruídos perversos
Sustenta os teus versos
e tua bela harmonia.

Anderson Câmara

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Fragmentos resenhado.

Ficou preto mas
tem um link bem aqui ->https://www.facebook.com/camila.deusdara/posts/344106209118138?notif_t=mention

Outro aqui -> https://www.youtube.com/watch?v=D5UVE5OOKBM

E mais outro aqui -> https://www.facebook.com/ninhodefogo

Salve, leitores meus...

Venho com alegria (e uns restinhos de ansiedade) falar que o Fragmentos foi resenhado.

Então, pessoal. A Camila Deus Dará é autora do livro Ninho de Fogo e tem um... (como se chama blog de vídeo mesmo?) canal no youtube que dá dicas para escritores e resenhas de livros.
E, bem... aqui ela fala do Fragmentos.
Vê aí...
Se curtir, legal... se não, pode pelo menos fazer bom uso dos demais vídeos dela. rs


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Primeiras fotos do ano.

Bem, meus raros caros visitantes e leitores.
Não tenho muito a dizer quando o assunto é fotografia. Dizem que é a oitava arte, e não me considero um artista. Um celular com câmera e um sol baixo sempre fazem uma boa foto de paisagem. Então desisti de me fingir de fotógrafo e apenas estou postando as fotos mais legais.

 Algumas são de paisagens; em outras, a única paisagem é minha cara mesmo.

:)

 Como eu disse, sol baixo e câmera de celular.

Às vezes nem precisa ir longe pra ver colinas verdejantes e desertas no estilo O Senhor dos Anéis. Basta ir pra Queimados rs (isso aí não é queimados)

Eu numa exposição das obras de Kandinsky no CCBB, no centro do Rio. (OBS: nenhum dos quadros na foto é de Kandinsky)

A tradicional e antiga Travessa do Ouvidor. Tem mais história que os livros da Stephenie Meyer.

 Acima, minha espinha fazendo sombra o monumento em homenagem a Pixinguinha (você conhece um monte de música dele, só não sabe. Google tá aí pra isso) e abaixo o restaurante Zack's, todo ambientado nos anos 60 (dos EUA, é claro)

E pra fechar, minha cara de paisagem entre as prateleiras da Baratos da Ribeiro (que não é mais na rua Barata Ribeiro de Copacabana). Você acha o Fragmentos à venda lá. :D

Fotos com significado são mais legais... ;)

As Jornadas de Tinta

Se te indago:
"pode o homem voar?"
Louco e absurdo,
me responderás.

E se insisto:
"pode o homem percorrer
este mundo com minutos
apenas a decorrer?"
Tu rirás consigo.

Mas se tua alma
de arte estiver inundada
saberás que o papel
é o céu por onde se voa
com asas de imaginação.
E das linhas retas nuas
podes fazer tua estrada

Se as lacunas da vida
Preenches com arte
sabes bem das jornadas de tinta.

02FEV15
Anderson Câmara

A estrela de luz pura

Naveguei por inóspito mar
Voei por vertiginosa altura
Buscando a estrela de luz pura
Minha preciosa joia sem par

E quando teu brilho puro
pela primeira vez contemplei
Logo por ti, raridade, m'encantei
Pensei: "és a preciosa que procuro"

Mas eras tão vislumbrante
que teu brilho me ofuscava
e foi com pesar que o viajante

Viu não ser digno da joia rara
Então recuei, divagante
Sem desfrutar do que encontrara

Anderson Câmara
31JAN15

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Enfim... Vivo


Mais um conto que nasceu na taverna literária do Baratos da Ribeiro



Deitado na cama, ele fitava a escuridão. Seu olhar penetrava as trevas e as trevas penetravam sua mente. Em algum lugar daquele mar negro, um relógio de parede tiquetaqueava movido por duas pilhas secas. Tinha certeza que podia contar até três entre um e outro estalido da pequena máquina.
Tudo corria tão devagar...
Tudo era tão longo...
Tão sem sabor...
Tão cru...
Despido.
Sabia que aquele momento só não andava mais devagar por causa do relógio. Era o que impedia que seu coração explodisse no meio daquela agonia que pesava sobre ele e o pressionava contra a cama. Por fora, era apenas um ser humano aparentemente descansando, mas a angústia o assolava por dentro como uma tempestade que parte os galhos de árvores e levanta as poeiras. A angústia que lhe aflorava era acompanhada da sensação de a vida não ter mais sentido. Enquanto a falta de luz apagava a cor das paredes, sem luz sua vida se revelava totalmente vazia e despropositada; chegava a contorcer a face de pavor quando pensava que era apenas uma excelente obra do acaso, como as descritas por Darwin. Achava até injusto ter uma essência tão leviana e ser provido de consciência, era injusto sofrer por existir sem propósito.
Estava sozinho.
Queria ver rostos sorrindo quando ele anunciasse sua angústia ao mundo, queria ver polegares que lhe aprovassem as palavras com que se expressasse, queria ver existências semelhantes à dele adulando-o pelos poucos sopros que sua própria existência provocava no infinito universo. Mas não havia ninguém, ninguém entraria por aquela porta, ninguém o chamaria, ninguém perguntaria se estava tudo bem, ninguém lhe daria boa noite quando se cansasse de lamentar e a escuridão finalmente lhe injetasse sono.
Se mexeu.
Ergueu os braços para o alto e os sustentou até onde conseguisse aguentar. Até os braços finos de sedentário começarem a estremecer e queimar, e assim ele se sentia vivo. Mas de que adiantava existir se não fizesse ondas no mar do tempo quando por ele passasse?
Ergueu os braços novamente, dessa vez energicamente, e com raiva mostrou os dedos médios para a escuridão. Como antes, as trevas o engoliram e zombaram. Mas ele os agitou, mandando a escuridão se ferrar com todo o ódio que sentia por valer tão pouco no mundo.
Então as luzes se acenderam.
A cor das paredes voltou, alarmes na vizinhança soaram, cães latiram, crianças exultaram. A luz o surpreendeu com os dedos médios voltados para ninguém, e se sentiu subitamente idiota.
E aí o peito que estava agitado de pavor, se agitou de excitação.
Saltou da cama, arrastou a cadeira e se sentou diante do computador, vigiando ora o modem que se recuperava da queda de energia, ora o monitor que acendia e revelava as várias e lentas etapas da iniciação da máquina. Observava-os agitado, ansioso, sedento, ensandecido; como quem apreensivamente observa a heroína fervilhando na colher.
Enfim... vivo.


Anderson Câmara 06FEV2015

Não tão minha

É, moça
minha mocinha
não tão minha
Ainda moça

E esse meu acanho
em denunciar-me
por tanto admirar-te
teu sorriso e teu canto

E essa beleza de lua
de tenra lua
com alcance da vastidão
das numerosas estrelas

É... quisera tê-la
para além desses versos de carinho
tê-la assim, comigo
Como a poesia à natureza.

Anderson Câmara
30/01/2015

Hoje

Juventude é coisa de cabeça
mais que de corpo
Aproveita a idade que tem
sem lamentar a que já teve
e nem agourar a de ontem
pois o amanhã vira ontem bem rápido
Homenageie os vivos
pois os mortos não escutam
nem agradecem
e nem perdoam.
Se admira, faça saber
Se tem mágoa, perdoa
Isso tudo envelhece o coração.
Converse e ria com voz
se encontre por motivos banais sim!
Um emoticon nunca substitui um sorriso
Se não pode cuidar de si por você
cuide por aqueles que te amam.

Anderson Câmara
10/02/2015

sábado, 7 de fevereiro de 2015

De novo escrever...

Escrever...
Solta assim, a palavra dispensa tudo o que vem depois.
É a prática e o significado unidos em um.
Escrever...
Que é? Riscar, sequenciar símbolos secamente?
A capacidade de cumprir a linguagem sem língua?
Escrever...
É um pouco mais profundo...
Mas só pra quem não se contenta com a superfície das águas.
Escrever...
Para alguns é como viver.
Para alguns é se esconder.
Escrever...
Para outros, ainda, é se deixar ler.

É deitar a própria vida em linhas de tinta.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Quando faltou luz

Primeiro, senti o silêncio. Os ruídos imperceptíveis da vida urbana sumiram, e então se tornaram perceptíveis. Fornos industriais com seu vibrar grave, música em diferentes pontos do bairro, vozes de pessoas em bares e lanchonetes, tudo isso se mesclava e se tornava um único tom ressonante que zumbia no fundo do cotidiano. Não havia isso mais, a vida moderna, acostumada ao barulho constante, achou estranho a lacuna deixada, esse vazio invisível e tão presente, tão cheio e pesado.
Estranhava-se ouvir as vozes dos vizinhos, o baque seco do copo na mesa, as gotas de chuva do beiral, o som da própria respiração. A gente tinha esquecido o som da vida real, de tão habituados às televisões fervilhando, aos aparelhos elétricos chiando e aos celulares apitando. Depois de estranhar, o silêncio virou uma visita agradável. Porque a gente descobriu que toda essa parafernália moderna, que serve para facilitar a vida, acaba por muito estressar a mente e o corpo já estressados depois de um dia de trabalho e as inevitáveis três horas de trânsito. E esses sons individuais, que finalmente tiveram vez de dizer que existem, acabaram por receber grande apreciação.
O silêncio ressaltou o quão agradável é viver simplesmente. Mas a mente reage á falta de agitação como um drogado em abstinência, acaba sofrendo da própria solução por que tanto clama.
Depois, a falta de tecnologia fez lembrar como a gente esquece que o prazer maior da vida é conversar um pouco com os companheiros de lar, é a doce expectativa da janta ficando pronta, é escrever em papel, sentindo a ponte esferográfica roçar na aspereza da folha a cada letra construída.
Viver devagar estica a vida...

03FEV2015

Anderson Câmara