terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Leituras de 2014

Então, com dias abreviados, chegamos cada vez mais perto do fim do ano, e consequentemente mais perto do dia em que a humanidade vai entrar em colapso e o mundo verá o Apocalipse acontecer; mas isso não vem ao caso.

Escatologia à parte, esse post é uma super resenha, ou várias resenhas pequeninas, sobre o que foi lido pelo autor do blog nesse ano como se alguém se importasse. rs



ignora o Hulk

Bem, comparado a outros anos, li bem pouco esse ano, mas ao mesmo tempo li muito. Pouco em volume, apenas sete livros. Muito pelo fato de que me ative aos mestres e gênios.


1. O Conde de Monte Cristo - Alexandre Dumas

 Alexandre Dumas eu classifico aqui como Gênio. O modo como ele nos transporta para uma Paris sem torre Eiffel é fascinante. Ele descreve com perfeição a sociedade da época, com seus valores duvidosos e os contrastes absurdos (coisa até parecida com o que se vê hoje). Duelos, casamentos arranjados pelos pais, extremas bondade e maldade, o poder do dinheiro, a descarada dissimulação exigida pelas altas posições sociais; entre tudo isso destaca-se um "Cale a boca, cavalheiro." Não fosse isso tudo, o enredo criado em torno do personagem de Edmond Dantés, o Conde de Monte Cristo, assim como a própria gradual e radical transformação do personagem, é pintado com uma maestria que você chega a duvidar se um ser humano seria capaz de encaixar tanta coisa em uma trama tão longa. Você fica fascinado com o quão meticulosas são as engrenagens para a vingança de Monte Cristo e o quão instáveis são as colunas que sustentam um indivíduo.
Comecei a ler O Conde de Monte Cristo em Novembro de 2013 e terminei em Outubro de 2014. Essa edição da Zahar tem 1662 páginas e reúne os dois volumes originais. Foi um desafio que comecei com receio e terminei com prazer.

2. O Silmarillion - J.R.R.Tolkien

Quem já leu Tolkien, sabe que não é fácil. Ele é extremamente e perfeitamente detalhista, mas sua obra se assemelha a um quadro impressionista: de perto, você vê pinceladas rápidas e isoladas, de longe, você vê uma obra magnífica. E essa é a grandiosidade de Tolkien, aqueles que o compreendem, sabem que Tolkien é também tanto um mestre quanto um gênio. A obra completa de Tolkien, desde O Hobbit, O Senhor dos Anéis, até chegar aos Contos Inacabados e os poemas de Tom Bombadil, pode ser descrita, retomando a metáfora, como um mosaico de quadros que se encaixa perfeitamente, sem deixar lacunas.
O Silmarillion é o livro mais completo sobre a mitologia tolkieniana, narrando desde a formação do mundo até os conhecidos eventos de O Senhor dos Anéis. Tolkien une uma geração à outra através de três eras, revelando as origens das raças, dos lugares principais, dos costumes, e falando de personagens conhecidos e surpreendentemente antigos Galadriel que o diga. Todo o enredo basicamente gira ao redor das Silmarils, que são as três pedras élficas criadas por Feanor; são símbolo de cobiça para criaturas das trevas e corrupção para seres de bem, por elas são travadas batalhas, aliados cometem assassinatos e a obtenção de uma Silmaril é até posta como condição para desposar a mais bela e mais nobre mulher que já andou sobre a Terra Média
Cometi um erro ao começar a ler O Silmarillion: peguei esse livro para descansar de O Conde de Monte Cristo, e acabou que os papéis se inverteram. Terminei o Silmarillion, apesar disso, muito mais rápido que Monte Cristo.

3. Verso Livre - Vários autores.

Descansava os olhos e a mente com poesia. Enquanto lia os dois de cima (ao mesmo tempo) eu intercalava os longos e complexos capítulos com sonetos e quartas de Carlos Drumond de Andrade, Vinícius de Morais, José Paulo Paes, Francisco Alvim e Eucanaã Ferraz. (confesso que não conhecia os três últimos). Relutei para incluir os livros de poemas nessa lista, poesia não é leitura que se marque, que se passe por cima com a sensação de dever cumprido e nunca mais se toque no livro. Poesia deve ser sentida, reaproveitada, compartilhada, absorvida e reproduzida.

4. Falenas - Machado de Assis

Há quem diga que Machado de Assis foi um poeta ruim. Não sei que critério estúpido foi utilizado por esses críticos, mas também não sou crítico. Talvez por isso o sentido de "crítica" tenha se transformado em sinônimo de "avaliação ruim" ou "apontamento de aspectos negativos", pois parece-me que o requisito para ser digno de ser honrado com o título de Crítico é ser incapaz de enxergar a realidade ou de admitir que apontar os verdadeiros aspectos de uma obra, seja positivos ou negativos, é mais importante que exaltar o próprio nome como avaliador polêmico que dá o que falar.
Machado de Assis, depois de Crisálidas, presenteia a humanidade com Falenas, seu segundo volume de poesia. Poeta romântico, clássico entre os clássicos e crítico (de verdade). Visionário para os padrões de seu tempo, e, é claro, passeando de mãos dadas com a poesia mesmo quando escrevia prosa.
É um bom exemplo para lembrar essas novas gerações de que no Brasil também tem escritor.

5. As Aventuras de Sherlock Holmes - Sir Arthur Conan Doyle

Não queria que minha imagem de Sherlock Holmes fosse construída por Robert Downey Jr. Há quem diga que Sherlock Holmes é uma versão pobre do Homem de Ferro; já eu, depois de ter lido essa coletânea de contos do homem com olhar mais perceptivo da literatura, digo que o Homem de Ferro foi mais moldado pelo Sherlock Holmes que o contrário. Quem conhece os quadrinhos sabe que o ator modificou a personalidade de Tony Stark. Talvez, contudo, Sherlock Holmes com suas excentricidades seja o personagem literário mais condizente com Robert Downey Jr. Genial, irônico, sarcástico, um tanto egoísta e ao mesmo tempo extremo praticante da empatia, Sherlock Holmes é um personagem tão grandioso que chega a se desvincular do nome de Conan Doyle. Holmes tem vida própria, e são poucos os personagens que conseguem ser grandiosos a pé de igualdade com seus autores. Os contos de Sherlock Holmes são narrados pelo Dr. Watson, cuja seriedade dá um tom solene à narrativa que contrasta com as situações estapafúrdias em que a dupla se encontra. Era engraçado ver uma pessoa desesperada chegar em Baker Street e se ver totalmente destrinchada pela observação de Holmes, e era mais engraçado ainda que isso te surpreendia mesmo sabendo que ele ia fazer isso de novo. Conan Doyle é um dos grandes mestres da Literatura e sua obra mais famosa é um belo reflexo disso.

6. A Causa Secreta e outros contos de horror. - Vários autores.

Machado de Assis, Edgar Allan Poe, Bram Stocker (Drácula), Robert Louis Stevenson (O Médico e o Monstro) Guy de Maupassant e Arthur Conan Doyle compõem este belo agrupamento de histórias de terror. Poe é sempre maestral com seus horrores psicológicos, e ler A Máscara da Morte Rubra em pleno surto de ebola foi particularmente assustador. Machado de Assis surpreende com o conto que dá titulo ao volume, talvez o mais assustador é que não haja nada de sobrenatural na narrativa escolhida para a coletânea, apenas o que pode ser encontrado de terrível no ser humano. Destaco apenas estes dois primeiros contos sem diminuir os outros. Com exceção de Guy de Maypassant, os demais autores são bem conhecidos pelo tom sombrio que são capazes de botar em suas palavras, mesmo Conan Doyle com Holmes.

7. Nas Montanhas da Loucura e outras histórias de terror. - H.P. Lovecraft

Ainda falando de terror e voltando a falar de gênios, fecho a lista com Lovecraft.
Se eu não dissesse mais nada essa frase valeria pelo post inteiro. Lovecraft criou toda uma mitologia, porém de uma forma muito mais terrível para a compreensão humana. Os humanos de Lovecraft topam uma realidade não paralela, mas oculta, que se torna espantosa por estar bem presente. Seus monstros são totalmente alheios a tudo o que se possa imaginar, até a nomenclatura "monstros" é pequena para os seres que ele descreve. Desde coisas fascinantes, como Cthulhu, até bizarras e perturbadoras, como Brown Jenkin. E o modo um pouco vago como ele descreve esse sobrenatural permite que a própria imaginação do leitor preencha o que falta, o que torna ainda mais terrível.
Eu não acreditava que era possível tomar um susto lendo, até ler Lovecraft.

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